Lembro muito bem de onde veio essa paixão pelos animes e, posteriormente, pelos mangás: ela vem de bastante tempo atrás, de quando eu era uma criança que adorava ver desenhos na televisão – especialmente TV Globinho e Bom dia e Companhia, lembram? Pois bem, vários desses desenhos que passavam tinham o formato de animes, e entre meus preferidos estavam sempre Yu-Gi-Oh! e Dragon Ball. Aposto que tem muita gente que sente o mesmo.
Mas pode ser que você tenha começado a ler o primeiro parágrafo e não entendeu nada do que eu falei, ou só não se identificou. Por isso eu quis trazer para todos – até para quem já é Otaku (fãs dessa cultura pop japonesa) – um pouco sobre a criação dos mangás e dos animes, e o que é essa arte que se tornou tão popular no Japão e no resto do mundo.
O Mangá é a palavra japonesa para nossas “histórias em quadrinhos” e o Anime é a animação seriada dessas histórias, que nem as séries que são baseadas em livros. Mas isso não é via de regra; alguns animes foram criados direto para o audiovisual, sem serem baseados em algum mangá, como, por exemplo, o “Avatar – A lenda de Aang” que, by the way, eu super recomendo (apesar de ser um anime americano e não japonês).
Existem algumas peculiaridades nos mangás e animes que os diferem de histórias em quadrinhos e animações que estamos acostumados. Em primeiro lugar, algo que muitas pessoas já conhecem, os mangás são lidos ao contrário dos quadrinhos, ou seja, você começa a história pela “parte de trás”, onde seria o final do livro, e ambos têm uma característica muito forte ao focar nas expressões dos personagens. Por isso aqueles olhos grandes (que têm como objetivo descrever o sentimento), a quantidade de onomatopéias e “caretas” ou “expressões faciais” que são exageradas e peculiares dessa cultura.
Os mangás têm uma origem bem antiga, e como tudo e todas as coisas, eles possuem referências passadas. A primeira referência vem com os rolos de pergaminhos que já utilizavam figuras e descrições para fazer registros há muitos séculos atrás; depois vieram as caricaturas, as ilustrações da cultura japonesa, as referências de cartunistas e da Disney (sim, já reparou nos olhos do Mickey Mouse?) que se tornaram populares com o “pai do Mangá”, Osamu Tezuka, lá em 1947.
Afinal, o que significa a palavra “Otaku”? Esse termo se tornou popular no Japão depois de uma revista de mangás, a Mangá Burikko, ter publicado uma autoria de Akio Nakamori (verdadeiro nome = Ansaku Shibahara) em 1983, na qual ele descrevia um grupo de jovens que faziam cosplays (se caracterizar igual a um personagem). Eles eram aficionados por tecnologia e fãs da cultura pop japonesa, e foram classificados como ”otakus”.
Infelizmente, a popularização do termo ficou super estereotipada como os “excluídos” e “nerds”, e com ajuda da mídia, que utilizou o termo para se referir a um serial killer “Tsutomu Miyazaki – O Assassino Otaku”, o termo acabou ficando pra lá de pejorativo. No entanto, entre as mudanças sociais que a década de 80 trouxe, como o avanço da tecnologia e a consolidação do mercado publicitário, a mudança da mentalidade relacionada à cultura dos otakus também marcou presença.
Muitos animes e mangás colocam personagens otakus com um olhar diferente do estereotipado e até citam a dedicação de alguns para seguir carreira na criação dos mesmos. Hoje, o termo é muito usado para descrever pessoas que são exatamente o que a palavra foi criada para descrever: fãs da cultura pop japonesa.
Outra peculiaridade dessa cultura é que suas obras são divididas por “tipos” específicos que indicam para qual público cada história é voltada. É claro que isso não condiz com a realidade, especialmente no século em que vivemos, e já falamos abertamente que não existem lugares ou gostos certos para meninas ou meninos. De qualquer forma, os mais comuns são:
SHOUNEN – obras destinadas ao público masculino jovem, que têm como temas histórias de ação, aventura, esportes etc. Entre os meus favoritos (tirando os citados lá em cima) estão: Naruto, Avatar, Jujutsu Kaisen (ainda em lançamento), Hunter x Hunter, Kimetsu no Yaiba (Demon Slayer), Fullmetal Alchemist: Brotherhood e por aí VAI.
SHOUJO – obras destinadas ao público feminino jovem, que também têm como temas histórias de ação e aventura, como Sakura Kard Captors e Sailor Moon, mas contam com um toque de romance. Eu adoro os romances escolares que se encaixam muito nesse gênero, como Kaich? wa Maid-sama!, Ao Haru Ride, Shigatsu wa Kimi no Uso, Ookami Shoujo to Kuro Ouji e por aí também VAI.
SEINEN/JOSEI – esses caem nas mesmas descrições: o primeiro para o público masculino, e o segundo para o feminino, mas aqui a diferença é a idade. Eles são voltados para um público mais velho e com temas mais dramáticos da vida adulta.
Kodomo – obras destinadas ao público infantil, como Hantaru, Pokemon e BeyBlade.
E dentro desses gêneros, existem subgêneros que podem se misturar e ditar algumas especificações sobre os enredos.
Slice Of Life: tratam de temas do cotidiano, “pedaços da vida” do personagem.
Yaoi (BL) ou Yuri: tratam de histórias homoafetivas, o Yaoi ou BL (Boys Love) entre homens, e Yuri entre mulheres.
Gore: temáticas sombrias, com violência ou sanguinolência.
Hentai ou Ecchi: voltado para o público +18, o Hentai mais concentrado apenas na sexualidade e o Ecchi com cenas +18 com mais humor e uma história mais elaborada.
E isso tudo é só um pouco dessa variedade enorme e dessa cultura linda que a gente aprende tanto sobre lendo os mangás e assistindo aos animes. Tem muito da cultura e dos costumes japoneses nas histórias e no envolvimento dos personagens que mostra como é (ou como eles gostariam que fosse) no oriente.
Tem também histórias que citam a famosa árvore “yozakura”, que tem a flor de cerejeira, histórias com personagens que trabalham na criação de mangás e são editores (um dos meus favoritos – Sekaiichi Hatsukoi), os festivais escolares característicos com as yukatas (roupas tradicionais) e muito mais.