DIA DO CINEMA BRASILEIRO

Artigo em homenagem ao Dia do Cinema Brasileiro com duas críticas/indicações de filmes nacionais

 

UM POUCO DE HISTÓRIA

O dia 19 de junho de 1898 foi considerado o Dia do Cinema Brasileiro devido às gravações realizadas por dois irmãos, Paschoal Affonso e Segreto, na Baía de Guanabara, consagrando-os como os dois primeiros cineastas no Brasil. No entanto, os filmes nacionais só começaram a aparecer de fato nos anos 30, com a produção documental.

 

Décadas de 30 e 40

E falando nos anos 30, é importante lembrar que, naquele momento, estava implementada no Brasil a Era Vargas, o que influenciava diretamente nas artes. Portanto, como citado por Sheila Schvarzman, Doutora em História Social pela UNICAMP, “aqui, se há algum projeto, esse é do Estado, e se há reflexão, ela está ligada às preocupações de uso do cinema na educação, e suas relações com a moral”. Depois disso, em 1940, esse cenário não se altera muito, mas há a criação do Clube de Cinema de São Paulo. Também nesta década, os filmes passaram a ser produzidos com a referência hollywoodiana e obtiveram grande repercussão as chamadas “Chanchadas”.

 

A partir dos anos 50

Mais adiante nos anos 50, há a criação da Cinemateca Brasileira. A partir dos anos 60, a crítica social começa a tomar lugar na produção nacional. Posteriormente, surge o cinema marginal, que continua nos anos 70 junto às pornochanchadas. Entre os anos 80 e começo dos anos 90, o cinema brasileiro sofre uma crise e uma decadência grande. Depois disso, só é resgatado no governo de Itamar Franco, que cria a Secretaria para o Desenvolvimento do Audiovisual. Marcando o final desta época de retomada do cinema brasileiro, temos a estréia do longa “Cidade de Deus”.

 

CIDADE DE DEUS

A produção, lançada em 2002 e dirigida por Fernando Meirelles, recebeu o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro. Também foi indicado ao Oscar de melhor diretor, melhor roteiro adaptado, melhor direção de fotografia e melhor edição. Abordando a história de Buscapé (Alexandre Rodrigues), morador da favela carioca “Cidade de Deus” – um dos lugares mais violentos do Rio de Janeiro – o longa mostra com transparência a criminalidade, a violência e as condições que acabam definindo a vida dos personagens.

 

“A Cidade de Deus fica muito longe do cartão-postal do Rio de Janeiro.”

 

O filme é baseado no livro de Paulo Lins, que foi escrito baseado em fatos reais, e usa os próprios habitantes das comunidades do Rio como os atores. Além disso, a produção apostou em uma ideia fora do padrão. Em suma ,conseguiu o resultado que queria, aproximando ainda mais a história da realidade .Portanto, é inevitável mencionar, além da história envolvente e bem contada, a qualidade técnica que envolveu todo o conceito da obra.

 

O AUTO DA COMPADECIDA

Antes da estreia de Cidade de Deus, o longa “O Auto da Compadecida” já trazia nos anos 2000 um marco do cinema nacional que durará para sempre. Dirigido por Guel Arraes, a comédia nordestina, que acabou virando uma série de 4 episódios também, foi baseada na obra de Ariano Suassuna, publicada em 1955. O filme venceu o Grande Prêmio do Cinema Brasil nas categorias melhor diretor, melhor ator para Matheus Nachtergaele, melhor roteiro e melhor lançamento. Também venceu o Grande Prêmio da Crítica (1999) pela APCA. Posteriormente, foi consagrado um dos cem melhores filmes brasileiros de todos os tempos em 2015 pela Abraccine. Depois disso, também venceu o prêmio do júri popular no Festival de Cinema Brasileiro em Miami, além de trazer o título de melhor ator para Matheus no Festival Internacional de Cinema de Viña del Mar, no Chile.

 

“É tanta qualidade que exigem para dar emprego, que eu não conheço um patrão com qualidade de ser empregado.”

 

O retrato de uma cultura

A produção retrata a cultura nordestina e uma realidade brasileira em diferentes aspectos. No entanto, o ponto mais forte, sem dúvida, são os diálogos .Principalmente os dizeres de João Grilo, interpretado maravilhosamente por Matheus Nachtergaele, personagem protagonista ao lado de Chicó (Selton Mello).Além disso, a comédia conta ainda com atores renomados brasileiros, como Fernanda Montenegro, Denise Fraga e Marco Nanini. Como muito bem citado na matéria do Guia do Estudante, “os personagens são alegóricos, ou seja, não representam indivíduos, mas tipos que devem ser compreendidos de acordo com a posição estrutural que ocupam”.

 

“Não sei, só sei que foi assim!”

 

 

Referências

SCHVARZMAN, Sheila. Dossiê Cinema, Literatura e Sociedade. História e historiografia do cinema Brasileiro: objetos do historiador. Cadernos de Ciências Humanas – Especiaria. v. 10, 2007.

KREUTZ, Katia.  A História do Cinema Brasileiro. aicinema, 2019. Disponível em: <https://www.aicinema.com.br/a-historia-do-cinema-brasileiro/>

HUNTER, Pedro. Cidade de Deus | Crítica. Omelete, atualizada em 2020. Disponível em: <https://www.omelete.com.br/filmes/criticas/cidade-de-deus>

SOUZA, Jaiane. O Auto da Compadecida: curiosidades sobre o filme vencedor do mata-mata do Culturadoria. Culturadoria, 2020. Disponível em: <https://culturadoria.com.br/curiosidades-o-auto-da-compadecida/>

“O auto da Compadecida” – Resumo da obra de Ariano Suassuna. Guia do estudante, atualizado em 2018. Disponível em: <https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/o-auto-da-compadecida-resumo-da-obra-de-ariano-suassuna/>